domingo, 22 de maio de 2011

52º Congresso da UNE: amor, revolução e poder

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Daniel Iliescu (*)
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Está em pleno vapor a mobilização para o 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes, o maior encontro da juventude brasileira. De 13 a 17 de julho de 2011, na bela cidade de Goiânia, cerca de 10 mil universitários de todos os cantos do país estarão reunidos para definir as políticas que nortearão a entidade máxima dos estudantes pelos próximos dois anos. No centro do debate a relação entre Educação, Trabalho e Desenvolvimento para construir um Brasil melhor para brasileiras e brasileiros.
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Na cultura política e na historiografia de muitos países, os estudantes, consideradas suas entidades representativas, são tidos como agentes de primeira grandeza, sendo reconhecidas as suas marcas em momentos decisivos das lutas políticas e sociais e estando sempre associados a idéias avançadas como a democracia, a justiça social e a soberania nacional. No Brasil isto acontece de maneira particularmente intensa e o livro "O Poder Jovem", do jornalista Arthur Poerner, conta bem a história de como a UNE, há 74 anos, encarna este sentimento de ousadia e inconformismo da juventude e de como os estudantes, geração após geração, se entregaram convictos à luta por avanços em seu tempo.
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A novela do SBT "Amor e Revolução", de autoria de Tiago Santiago e dirigida por Reynaldo Boury, é outra grande fonte de informação e inspiração para que os estudantes de hoje conheçam os tortuosos caminhos percorridos pela sociedade brasileira e qual a real força dos jovens quando decidem participar ativamente da história. Talvez sua maior contribuição seja levar a atual juventude das Forças Armadas à reflexão sobre seu real compromisso com a Pátria e com o povo brasileiro. A referência ao passado, no entanto, serve para afirmar que a juventude é, a qualquer tempo, a voz que provoca e contagia o país a buscar melhorias para as condições de vida da população, superando desigualdades e fortalecendo a nação. Dentre os inúmeros exemplos atuais que fazem cair por terra o mito segundo o qual o jovem de hoje seria alienado e não se mobilizaria por transformações, o mais vigoroso é, sem dúvida, o Congresso da UNE.
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Neste exato instante, enquanto o leitor corre os olhos por este artigo, centenas ou milhares de militantes do movimento estudantil, levantando bandeiras de diversos movimentos, emitindo diferentes opiniões políticas, orientados por inúmeras escolas de pensamento, organizados ou não por vários partidos políticos, fazem eclodir nas universidades um rico debate sobre o presente e o futuro do Brasil, numa flagrante demonstração de pluralismo e unidade característicos do movimento juvenil de nosso país. Quando uma jovem ou um jovem, movido pelo entusiasmo e generosidade de quem constrói o congresso de uma entidade tão necessária ao Brasil - seja diretor(a) da UNE ou não - passa em uma sala de aula, fala em uma assembléia, aborda seus colegas no corredor, no boteco, na quadra, no ateliê, no laboratório, convidando-os a tomar parte na história, ela ou ele é a UNE viva, é o próprio movimento estudantil semeando nosso futuro.
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Quem participa de uma eleição de DCE como a realizada há alguns dias na UNINOVE, em São Paulo, com cerca de 15 mil estudantes votando, percebe claramente o imenso potencial político a ser explorado pelo movimento estudantil e o grande serviço prestado ao Brasil, ao ajudar a forjar gerações de brasileiros acostumados com a democracia. O grande desafio colocado para aqueles que lutam para transformar o País é ligar-se profundamente ao povo brasileiro, em especial à enorme população jovem, vitaminada em relevância política e protagonismo pelos avanços democráticos e pelo bônus demográfico que faz com que sejam hoje mais de 50 milhões @s brasileir@s entre 15 e 29 anos. Um Brasil feito por jovens!
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O estudante que sonha com um Brasil mais justo e desenvolvido deve assimilar a idéia de que o Congresso da UNE é um momento extremamente fecundo, farto de possibilidades para a ação coletiva dos estudantes que fortaleça a luta por uma verdadeira revolução na educação brasileira. Assimilar tal idéia é, assim, colocá-la em prática mobilizando mais e mais estudantes para o 52o CONUNE.
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O Congresso da UNE é a nossa maior semeadura! É a grande oportunidade de transformar os sonhos em realidade, de aglutinar mais jovens, de agregar mais gente com sede de mudanças, de forjar novas lideranças populares! É a UNE na base consciente de suas forças e de seus desafios, colocando sua rede em constante movimento! É o amor pelo país e o brilho nos olhos dos que arregaçam as mangas e gastam a sola dos sapatos organizando a estudantada em milhares de cidades brasileiras! É a UNE do tamanho do Brasil e do fantástico potencial desabrochando na ação corajosa e vibrante da juventude que insiste cantar cada vez mais alto a manhã geral que nascerá da união de nossa gente! Para dúvidas e sugestões, seguem os contatos da Comissão Nacional de Eleição, Credenciamento e Organização (CNECO) do 52º CONUNE: e-mail: 52congresso.une@gmail.com Telefone: (11) 5539-2350.
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(*) Diretor de Relações Internacionais da UNE.
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FONTE: http://juventudeempauta.blogspot.com
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sábado, 21 de maio de 2011

II Festival Latino-Americano das Juventudes

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De 8 a 11 de outubro de 2011, a Prefeitura Municipal de Fortaleza realiza o "II Festival Latino-Americano das Juventudes", com o tema “O canto de um novo mundo”. Para construir o encontro de forma democrática, poder público e sociedade civil trabalharão juntos na organização do Festival, a exemplo do que ocorreu na primeira edição, em 2010, com a criação do Comitê Local. Formado por Grupos de Trabalho (GTs) com atuação em vários eixos temáticos, o Comitê Local é responsável por propor à coordenação do Festival ideias e encaminhamentos que auxiliem no processo organizativo.
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A proposta é que o Festival seja um espaço de encontro, de convívio, de trocas, de pensamentos sobre os contextos em que as juventudes estão inseridas. Para isso, serão construidos momentos de discussão e de prática, tanto em termos de organizações como de pensamentos. As inscrições para participar do II Festival e para inscrever atividades estão previstas para o período de julho e agosto. Para inscrições de atividades de caráter nacional ou internacional, o contato com a organização do evento já pode ser feito através do e-mail: fdasjuventudes@gmail.com
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O GT de Comunicação e Novas Tecnologias, parte integrante do Comitê Local, convida os representantes de movimentos e organizações juvenis que trabalham as temáticas afins, a participarem das reuniões de construção do II Festival das Juventudes. O convite estende-se aos estudantes de ambas as áreas temáticas e aos demais interessad@s em construir as propostas do eixo de Comunicação e Novas Tecnologias para o evento. Inclusive, a primeira reunião deste GT foi realizada nesta quarta-feira, 18 de maio, no anexo do Gabinete da Prefeita de Fortaleza.
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O "I Festival das Juventudes em Fortaleza – América Latina e as Lutas Juvenis", contou com ampla participação da sociedade civil, desde a construção das atividades que compuseram a programação até a ocupação dos espaços durante o próprio evento. O eixo de Comunicação e Novas Tecnologias propôs e executou a Casa da Comunicação, composta pela comunicação colaborativa e pelo telecentro. Em 2011, a proposta é ampliar a participação do eixo no II Festival das Juventudes, fazendo parte da programação do evento também com atividades de caráter formativo, como: debates, palestras e oficinas, construídas de forma participativa e democrática.
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Contatos
Lívia Manzolillo (85) 8814-4012
Ana Carolina Nogueira (85) 8816-4644
www.facebook.com/FestivaldasJuventudes
E-mail: fdasjuventudes@gmail.com
Twitter: @fdasjuventudes
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FONTE: http://blogdadilma.blog.br
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Religião e Política no Brasil

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Renato Janine Ribeiro (*)
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Um dos primeiros atos do regime republicano no Brasil foi separar a Igreja do Estado. No Império, os padres eram funcionários públicos, as religiões diferentes da católica podiam ser praticadas, mas "sem forma externa de culto" e, finalmente, bispos eram nomeados e encíclicas eram seguidas somente se o imperador lhes desse seu acordo. Desde a República, nenhuma Igreja pode ser oficial, ao mesmo tempo em que se garante ilimitada liberdade de culto a todas.
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Isso não foi tão fácil de realizar. Os católicos contaram com muito apoio oficial. Quando eu era criança, as aulas de Religião - na escola pública - eram praticamente só da igreja católica. Ela orientava as pessoas sobre os filmes aos quais podiam assistir e até recomendava o voto dos eleitores, apesar de nunca ter atingido a influência de sua congênere italiana - talvez porque a "ameaça comunista" (sic), aqui, nunca tenha sido grande. Alguns padres recomendavam que os fiéis destruíssem bíblias protestantes, caso as tivessem, e não lessem Monteiro Lobato. Nos últimos 50 anos, porém, enquanto aumentava o número dos católicos não praticantes, crescia tremendamente o de cristãos evangélicos, de adeptos de outras religiões e de agnósticos ou ateus. E a igreja católica mudou muito.
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Quer dizer que se separou a Igreja do Estado, a Religião da política? Não. Quando, na campanha presidencial, a questão do aborto entrou em cena, seus principais porta-vozes foram líderes religiosos. Um assunto que deve ser debatido com calma e tranquilidade foi atirado às paixões e preconceitos. Os candidatos tiveram que dar-lhe uma importância excessiva. Com isso, perdeu o espírito republicano, que exige a discussão dos assuntos com vistas ao bem comum e não a princípios de uma Religião, seja ela qual for. Mas isso significa que as pessoas não devam se manifestar de acordo com sua fé religiosa? Não. É direito de cada um escolher sua Religião - ou sua falta de Religião - e agir em consequência. A única ressalva é que ninguém viole a lei. E também, insisto: que a escolha seja da pessoa, em vez de lhe ser imposta.
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Religiões têm muito a ver com moral. Elas incluem dogmas, liturgia, mas também normas de ação. Portanto, é normal que as religiões recomendem ou até ordenem determinadas condutas. Por exemplo, algumas proíbem por completo o aborto, outras o aceitam nos casos em que a lei brasileira o permite (estupro, incesto) e outras, ainda, o admitem com a única limitação de não passar de alguns meses de gestação. É justo que os fiéis levem em conta sua fé religiosa ao moverem-se em assuntos delicados.
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Também sucede de Igrejas recomendarem que não se vote em corruptos, que se lute contra a injustiça social e por aí vai. Se aceitamos que elas se exprimam sobre um destes assuntos, devemos admitir que também falem a respeito de outros. Mas, aqui, há dois pontos importantes a assinalar. Primeiro: mesmo que padres e pastores chamem seus fiéis de "rebanho", as pessoas estão cada vez menos dispostas a serem ovelhas, a serem rebanho, a serem conduzidas por ordens de qualquer tipo. Fomos nos tornando meio kantianos, isto é, tudo o que é ordenado tem de ser justificado e, cada vez mais, ser examinado por nossa razão. Ninguém mais vai queimar Monteiro Lobato - assim espero! É verdade que essa exigência de autonomia, de cada um decidir sua vida, infelizmente não está presente em todos - uma parte da população segue o chefe de maneira quase maquinal - mas ela cresce constantemente.
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Portanto, ao líder religioso cabe orientar, sugerir, não mandar. E as pessoas devem considerar seus ensinamentos à luz de muitos outros, até mesmo das experiências que tenham na vida. Consta que a maior parte dos abortos proibidos no Brasil é realizada por católicas casadas; isso deve ser difícil para elas, que se vêem divididas entre a ordem da Igreja e sua vivência pessoal. Mas não se foge disso negando-se a experiência vivida, culpando-se, martirizando-se. A saída é pensar muito, com a razão e também com o coração, até se chegar a uma decisão realmente autônoma, que concilie na medida do possível a fé e a independência de cada um. A consciência não é feita apenas de Religião. Ela é antes de qualquer coisa autonomia: capacidade de decidir, só, os caminhos a trilhar.
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O segundo ponto é que - mesmo sendo movidos pela moral e mesmo tendo ela, para muitos, um componente religioso - na vida social e pública lidamos com pessoas de outras religiões e até mesmo de outros valores. É claro que não se trata de cair num relativismo moral completo. Acredito que todas as pessoas decentes condenem o assassinato, o estupro, a violência ilegítima. Mas, em sociedade, nem sempre os acordos a que chegamos sobre o que fazer estão baseados nos mesmos princípios.
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Com frequência, concordamos sobre ações práticas ainda que os princípios de uns e de outros sejam diferentes. É só assim que a sociedade democrática pode funcionar: pessoas com crenças religiosas e convicções políticas diferentes, todas elas legítimas, mas que concordam sobre um mínimo de regras que valham para todos. Por isso, os líderes religiosos não devem dar ordens a seus fiéis. Podem orientá- los. Podem dizer que levem em conta a justiça social, a moral dos candidatos, até mesmo sua posição sobre o aborto. Tudo isso é legítimo. Mas não devem ordenar que sigam uma de suas orientações como sendo a única. O mundo é complexo demais para ser medido com apenas um metro. As pessoas também são complexas, por isso suas vidas e opiniões não podem se reduzir a uma regra apenas.
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(*) Professor de Ética e Filosofia Política da USP.
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FONTE: Centro de Estudos Politicos Econômicos e Culturais
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A democracia cultural

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Emir Sader
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O modelo econômico social com as adequações que já começaram a ser colocadas em prática – deverá continuar a ser a referência fundamental para o governo brasileiro. Questões fundamentais passarão a ser vinculadas aos valores que devem predominar em uma sociedade que tem se transformado aceleradamente durante a primeira década do século XXI.
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Uma expressão da importância dessa esfera foi dada pela campanha eleitoral, em que a comparação entre os governos FHC e Lula era avassaladoramente favorável a este, o que levou a oposição a buscar um atalho de deslocamento para explorar preconceitos no plano dos valores de setores da classe média, mas também se setores populares. Daí a diferença entre o índice de popularidade do governo Lula e a votação que a Dilma conseguiu em 2010.
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Os valores predominantes na sociedade brasileira, produto das transformações que o neoliberalismo impôs, foram provenientes do “modo de vida norteamericano”, assentado na competição individual no mercado de todos contra todos. Uma visão segunda a qual “tudo tem preço”, “tudo se vende, tudo se compra”, tudo é mercadoria. Uma visão que incentiva o consumidor em detrimento do cidadão, o mercado às custas dos direitos , a esfera mercantil contra a esfera pública.
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Os avanços econômicos e sociais geram a base para que os valores predominantes na sociedade brasileira possam mudar nos seus fundamentos. O apoio do povo brasileiro ao governo Lula é resultado do papel essencial que o governo passou a dar aos direitos de todos, independentemente do nível de renda, governando para todos e não apenas para aqueles que têm poder de renda, aqueles que conseguem ter acesso ao consumo por meio do mercado.
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Os valores implícitos no modelo econômico e social adotados no Brasil atual são os da preponderância do direito sobre a competição, são os direitos de tod@s e não apenas dos que possuem poder de renda adquirida no mercado. São os dos direitos para tod@s, do governo para tod@s, da cidadania estendida a tod@s. O da reestruturação do Estado em torno dos interesses públicos e sua desmercantilização, sua desfinanceirização.
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Os valores que deveriam nortear os novos contornos da sociedade brasileira, de uma sociedade mais justa, deveriam ser os de solidariedade, justiça social, desenvolvimento econômico e social, soberania política, cidadania, direitos para todos. O neoliberalismo buscou mercantilizar tudo, concentrando aceleradamente as riquezas, atentando gravemente contra a democracia, contra o acesso aos direitos para todos.
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A construção dos valores de uma nova solidariedade é decisiva para consolidar os avanços econômicos e sociais dos últimos anos, porque é no plano da consciência, dos valores, das ideias, dos costumes e hábitos que regem as vidas das pessoas, que se constroem as formas de sociabilidade. Desmercantilizar é democratizar, é superar o filtro do mercado, que seleciona os que têm poder de acesso a bens, para estender esse direito a todos. É privilegiar a esfera dos direitos em oposição à esfera mercantil.
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Na esfera mercantil triunfa quem tem maior poder aquisitivo, uma esfera centrada no consumidor. Na esfera pública tod@s têm direitos, uma esfera centrada no cidadão. Portanto, essa é a grande transformação que o Brasil precisa viver nos próximos anos, para se tornar uma democracia não apenas nos planos econômico e social, mas também no plano cultural.
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FONTE: http://www.cartamaior.com.br
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