sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Pimpolho e o seu vício


Ubiratan Pereira (*)
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Já faz algum tempo que leio, reflito e me aprofundo em temas relativos à adolescência, juventude, violência urbana e políticas públicas direcionadas a este segmento da população que historicamente foi subjugado, marginalizado e excluído da ação governamental. Hoje no mundo temos a maior geração de jovens de todos os tempos. Na América Latina, 53% da população tem menos de 25 anos de idade. No Brasil, os jovens de 15 a 29 anos representam 40% da população economicamente ativa.
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Durante muito tempo o enfoque na tutela, o olhar repressor do Estado, e a ausência de uma política estruturante, compartilhada e protagonista de/para e com as juventudes inexistiu no Brasil. Este cenário sofre modificações graduais e hoje temos vários avanços a comemorar… Para não me estender muito, cito o Conselho Nacional de Juventude, a Secretaria Nacional de Juventude, vinculada à Secretaria Geral da Presidência da República, e, mais recentemente, a PEC da Juventude, incorporando o marco legal da juventude na Constituição Brasileira.
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Mas, nada é tão significativo e marcante, do que o cotidiano e a nua e crua realidade urbana. Participei da implementação do ProJovem em João Pessoa no ano de 2005. Apesar da aposta no Programa e dos princípios sempre defendidos pelos movimentos e organizações de juventude, só tive noção da repercussão das ações quando ouvi nos depoimentos dos alunos(as) a transformação que uma oportunidade gera em cada história de vida. Marcou para sempre a escuta que fiz de pessoas que estavam entregues ao próprio azar, imersos na violência urbana, consumidos pela dependência e submetidos a mais completa falta de oportunidades. Por menor que seja, um aceno para quem pede socorro, significa bem mais que uma esperança.
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Fiz toda esta extensa introdução para falar de Pimpolho, garoto de 12 anos, residente em uma comunidade carente de João Pessoa e aluno da "Inclusão Radical", projeto da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) voltado para o incentivo à prática do skate. Vítima da vulnerabilidade social e da violência urbana, perdeu o irmão recentemente quando este tentava roubar um cidadão em um dos bairros nobres da nossa cidade. A fatalidade fez com que o irmão de Pimpolho passasse por uma rápida inversão de papéis, passando a ser vítima fatal da cena que ele próprio criara.
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O crime de quem estava cometendo o crime poderia ter sido somente mais uma notícia corriqueira, um dado a mais na estatística da violência na PB, não fosse o depoimento de Pimpolho sobre o irmão, que segundo ele “estava fazendo coisa errada”. De forma lúcida e desprendida, o garoto fala em um vídeo de “homenagem” ao irmão que achou triste o acontecido porque “ele era um cara normal, tava trabalhando, mas chamaram pra fazer coisa errada…”
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Impressiona a centralidade que a "Inclusão Radical" ocupa na vida de Pimpolho. O que aparentemente seria apenas uma prática desportiva, ou menos que isso, um passatempo, um hobby, passa a ser estruturante para a sua vida, mesmo que em perspectiva. Não causaria surpresa se no mesmo vídeo, Pimpolho aparecesse como um criminoso em potencial, ou mesmo um potencial criminoso em vias de se vingar da morte do irmão. O fim da história, ou o começo dela é diferente… “Enquanto os outros se viciam em fazer coisa errada, a gente se vicia é no skate…” A quem interessar possa, o vídeo postado no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=t58boNzi1E4
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(*) Vereador em João Pessoa pelo PSB.
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FONTE: http://www.paraibanews.com
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