A organização econômica e o Socialismo
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Antônio Gramsci
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A cisão entre política e economia, entre organismo e ambiente social, defendida pela crítica sindicalista, não passa para nós de uma abstração teórica, proveniente de uma necessidade empírica, inteiramente prática, de cindir provisoriamente a unidade social ativa para melhor estudá-la, para melhor compreendê-la. Ao analisar um fenômeno, somos obrigados, se quisermos estudá-lo, a reduzir tal fenômeno a seus chamados elementos, que, na verdade, são apenas, cada um deles, o próprio fenômeno visto mais num dos seus momentos do que em outro, quando visamos mais a uma finalidade particular do que a outra.
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Mas a sociedade, assim como o homem, é sempre e tão somente uma unidade histórica e ideal que se desenvolve negando-se e superando-se continuamente. Política e economia, ambiente e organismo social formam sempre uma unidade: e é um dos maiores méritos do marxismo ter afirmado essa unidade dialética. Ocorreu que sindicalistas e reformistas, por um mesmo erro de pensamento, especializaram-se num diferente ramo da linguagem empírica socialista. Da unidade da atividade social uns destacaram arbitrariamente o termo "economia", enquanto outros fizeram o mesmo com o termo "política". Uns cristalizam-se na organização profissional e, por causa da distorção inicial do seu pensamento, fazem má política e péssima economia; os outros se cristalizam nas atividades parlamentares, legislativas, e, pela mesma razão, fazem má política e péssima economia.
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Antônio Gramsci
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A cisão entre política e economia, entre organismo e ambiente social, defendida pela crítica sindicalista, não passa para nós de uma abstração teórica, proveniente de uma necessidade empírica, inteiramente prática, de cindir provisoriamente a unidade social ativa para melhor estudá-la, para melhor compreendê-la. Ao analisar um fenômeno, somos obrigados, se quisermos estudá-lo, a reduzir tal fenômeno a seus chamados elementos, que, na verdade, são apenas, cada um deles, o próprio fenômeno visto mais num dos seus momentos do que em outro, quando visamos mais a uma finalidade particular do que a outra.
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Mas a sociedade, assim como o homem, é sempre e tão somente uma unidade histórica e ideal que se desenvolve negando-se e superando-se continuamente. Política e economia, ambiente e organismo social formam sempre uma unidade: e é um dos maiores méritos do marxismo ter afirmado essa unidade dialética. Ocorreu que sindicalistas e reformistas, por um mesmo erro de pensamento, especializaram-se num diferente ramo da linguagem empírica socialista. Da unidade da atividade social uns destacaram arbitrariamente o termo "economia", enquanto outros fizeram o mesmo com o termo "política". Uns cristalizam-se na organização profissional e, por causa da distorção inicial do seu pensamento, fazem má política e péssima economia; os outros se cristalizam nas atividades parlamentares, legislativas, e, pela mesma razão, fazem má política e péssima economia.
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Esta atividade histórica contraditória não culminará nem em um Estado corporativo, como aquele com que sonham os sindicalistas, nem em um Estado que tenha monopolizado a produção e a distribuição, com aquele sonhado pelos reformistas. Culminará, ao contrário, numa organização da liberdade de todos e para todos, que não terá nenhum caráter estável e definido, mas será uma contínua busca de novas formas, de novas relações, que se adéquem cada vez mais às necessidades dos homens e dos grupos, a fim de que todas as iniciativas (se forem úteis) sejam respeitadas, de que todas as liberdades (se não implicarem em privilégios) sejam garantidas.
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Portanto, não é exata a afirmação de que a atividade política socialista é socialista por que provém de homens de homens que se dizem socialistas. O mesmo se poderia dizer de qualquer outra atividade, ou seja, que tal atividade não é o que diz ser somente porque uma mesma qualificação é atribuída aos homens que a executam. Faríamos muito melhor se a má política fosse chamada pelo seu verdadeiro nome, ou seja, o de máfia, e se não nos deixássemos encantar pelos mafiosos a ponto de renunciar a uma atividade que é componente necessária do nosso movimento. De resto, Kautsky observou agudamente que a fobia política e parlamentar é uma debilidade pequeno-burguesa, própria de gente preguiçosa, que não quer realizar o esforço necessário para controlar seus próprios representantes, para identificar-se com eles ou para fazer com que eles se identifiquem conosco.
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Artigo escrito em 9 de fevereiro de 1918.
Origem desta transcrição: Escritos Políticos, vol. 1,
Editora Civilização Brasileira, 2004.
FONTE: http://www.marxists.org
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