quarta-feira, 20 de outubro de 2010


Com Dilma, pela vida em plenitude
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Patrus Ananias (*)
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“Vim para que tenham a vida; e a tenham em plenitude”. Essa é a vigorosa mensagem de Jesus que forma o centro do cristianismo. E é com base nela que gostaria de compartilhar algumas reflexões acerca do direito à vida, que para nós, cristãos, começa com o momento sagrado da concepção. Mas penso que o direito à vida a partir da concepção deve ser vinculado a uma compreensão mais alargada de vida, pensando na “plenitude” reforçada na mensagem do Cristo.
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Neste segundo turno das eleições presidenciais, setores muito conservadores da sociedade introduziram a questão do aborto de maneira enviesada, como se, por si, envolvesse toda discussão da defesa da vida e as outras questões não importassem mais. Com isso, prestam um desserviço ao reduzir a discussão e impedir o necessário e saudável debate em torno de projetos. Eu topo discutir o direito à vida. Mas que seja a vida entendida em seu sentido mais alargado, considerando as condições objetivas de sua existência. Esse foi o núcleo das políticas públicas nos dois mandatos do presidente Lula e é o centro do programa de governo da nossa candidata Dilma Roussef. Ambos se sustentam na importância e na centralidade das políticas sociais como coesionadoras de um projeto de desenvolvimento integral e integrado para o País.
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Ao discutir a defesa da vida, precisamos, por exemplo, fazer um enfrentamento vigoroso para reduzirmos cada vez mais – como estamos reduzindo no governo Lula – a mortalidade infantil. Temos ainda que discutir e enfrentar a questão da juventude, da violência nas periferias das cidades, que atinge principalmente os jovens pobres e negros. É uma guerra na qual ninguém está ganhando. O governo Lula, do qual eu participei, tem um programa importante para garantir a segurança por meio de uma perspectiva de cidadania, o PRONASCI (Programa Nacional de Segurança e Cidadania). Este programa vem reduzindo as mortes e a violência em várias cidades, principalmente nas regiões metropolitanas do Brasil.
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E a questão da fome? A fome mata! Nós, no governo Lula, incluímos mais de 30 milhões de pessoas na classe média e 28 milhões saíram da pobreza absoluta. É uma conquista histórica, civilizatória, cristã, evangélica: nós estamos vencendo a batalha contra a fome no Brasil. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do qual eu tive a honra de ser ministro, contou este ano com um orçamento de R$ 39 bilhões – dinheiro dedicado única e exclusivamente aos pobres. Dedicado única e exclusivamente a combater a fome, a pobreza, a miséria, a desnutrição e, com isso, promover a plenitude da vida. Devemos buscar uma sociedade em que ninguém morra antes da hora, em que as pessoas vivam dignamente até o limite de seus organismos. Uma sociedade onde ninguém morra violentamente. Para isso, precisamos combater três frentes de violência...
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A primeira, a qual nós estamos superando, é a violência social. Ela diz respeito às pessoas que morrem por causa da fome, da desnutrição, da falta de atendimento médico e cuidados básicos com a saúde, por causa da falta de moradia e saneamento básico. Hoje há um enfrentamento vigoroso a esses tipos de violência, como nunca foi feito no Brasil. Temos um intenso trabalho pela garantia de comida, água potável – com o Programa das Cisternas -, saneamento básico, casa própria – como no programa Minha Casa, Minha Vida -, acesso à energia elétrica com o Luz Para Todos. Há um esforço do atual governo em enfrentar essas questões, esforço este que o mundo inteiro reconhece. O Brasil tem se tornado uma referência mundial no campo das políticas sociais.
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A segunda, também merecedora de uma séria reflexão, é a violência no trânsito. Jovens, crianças, pais e mães de família estão morrendo nas ruas e nas estradas. Cada feriado tem se tornado um balanço trágico dessas vidas humanas que não tiveram seu direito sagrado assegurado. Por fim, há ainda a violência – que vem se reduzindo – das periferias das grandes cidades. É preciso intensificar o combate ao crime organizado e garantir uma vida de tranquilidade às famílias que moram nesses locais.
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São Tomás de Aquino já nos ensinava na Idade Média que a prática das virtudes cristãs pressupõe o atendimento às necessidades materiais básicas. Podemos dizer hoje que a prática das virtudes cívicas, republicanas e democráticas pressupõe direito à alimentação, moradia, condições dignas de vida. Nenhum de nós é a favor do aborto em si. E o Papa João XXIII nos ensinava: é preciso distinguir o erro da pessoa que erra. Santo Agostinho também dizia: é preciso distinguir pecado e pecador. O erro e o pecado devem ser combatidos. A pessoa que erra tem de ser acolhida. Nosso Deus é o Deus da misericórdia, é o Deus do filho pródigo, como ensinou Jesus.
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Colocar Dilma e Lula como pessoas que são contrárias à vida é uma ação que fere nossa ética cristã, que distorce a discussão delicada que deve ser feita, e que não contempla a discussão maior do direito à vida em um aspecto mais amplo. A discussão feita atualmente está incompleta e não traduz o sentimento cristão que nos mobiliza em favor da vida. Qual o futuro para uma vida condenada a ser para sempre “Severina”? O caminho natural da vida não é esse. É de ampliar horizontes. Mesmo a vida Severina, como bem nos mostra o belo poema de João Cabral, se move sob esse pulso. Ela rompe todas as barreiras, contraria todas as adversidades e nasce como resposta de esperança. A força que traz dentro de si é elevada demais para ficar desperdiçada. Investir no desenvolvimento das potencialidades das pessoas é investir na liberdade, que se traduz em exercício da cidadania e segurança para acolher e formar seus filhos em condições cada vez melhores.
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As políticas sociais do governo Lula, articuladas dentro de um projeto mais amplo de desenvolvimento, estão dando curso a essa força vital. O projeto, ainda inconcluso diante da secular dívida social do país, precisa de continuidade. Dilma, por sua história e pelas forças políticas e sociais que a apóiam, traduz o compromisso com a ampliação das políticas públicas sociais que asseguram em plenitude o direito à vida e à dignidade da pessoa humana no contexto generoso, amplo e alargado da justiça social e do bem comum.
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(*) Ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

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