A crise do capitalismo e o papel dos socialistas
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Roberto Amaral (*)
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Depois do ‘fim da história’, depois da vitória do neoliberalismo, depois do assassinato do marxismo, a queda do muro do capitalismo. E o escandaloso silêncio das esquerdas brasileiras. Walt Street se corrói (primeiro a eclosão esperada da crise hipotecária nos EUA, depois a bolha especulativa) em mais uma crise cíclica do capitalismo e os analistas de ontem, os pregoeiros do enterro da Esquerda, de novo e como sempre estão nas páginas da direita impressa, no vídeo das TVs, deitando novas regras, muitas delas as velhas regras do keynesianismo que ontem denunciavam como paradigma do arcaico. E a sociedade é empanturrada de receitas e remédios, panacéias e alquimias, cujo único objetivo é salvar o que não tem cura: o capitalismo.
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Outro dia, num telão, um ex-presidente do BC, redivivo personagem da ditadura, dizia que nada havia por corrigir no capitalismo em crise, pois ninguém mais querela voltar ao estatismo. Ora voltar ao estatismo é coisa do governo Bush, do governo inglês, estatizando bancos e a maior seguradora do mundo...
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Seja aqui seja ali, onde a crise larva como rastilho de pólvora, atingindo todo o mundo mas principalmente os emergentes, a receita é única: proteger o sistema financeira, o mais sagrado dos santos adorados no altar do capitalismo. E assim, por toda parte, sob o silêncio de uma esquerda assustada, uma vez e como sempre o dinheiro do povo é canalizado para salvar as dívidas do sistema bancário, salvar com nossas economias as contas dos banqueiros, pegos em meio a criminosa especulação financeira.
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Ninguém fala na economia real, que precisa ser amparada, pois ela, com a redução do crédito, é a principal atingida, agravando o desemprego, a pobreza e a concentração de renda. A Esquerda não fala que essa crise é estrutural e inseparavelmente inerente ao capitalismo, indissociável do modo de produção capitalista.
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No Brasil, em nosso governo, doamos dinheiro aos bancos para que eles comprem outros ativos - quando deveríamos estar fortalecendo os bancos estatais e a economia popular. A grande banca ganha na crise e no ‘tratamento’ da crise. Livra-se das limitações do compulsório, mas se recusa à concessão de crédito aos pequenos e médios empresários, mesmo utilizando recursos do Erário. E em nosso país nos rejubilamos com a concentração bancária, que anula a concorrência, e transferimos os riscos do setor privado ao sistema público. A velha e cediça lei: privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.
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Mas até aí, tudo bem; tudo bem porque essa é a norma de nossa história recorrente. Tudo bem, modus in rebus, pois já era nosso direito almejar a um enfrentamento não-ortodoxo, porque ortodoxia neoliberal – que ficou décadas e décadas de mãos livres para fazer tudo que lhes desse na veneta - fracassou, é o defunto mal-cheiroso que a direita impressa se recusa a enterrar. Tudo bem, modus in rebus, porque é inaceitável o silêncio da esquerda brasileira, que não denuncia a farsa e não cumpre com seu dever histórico que é o de denunciar a falência do capitalismo. Esta não é a crise recorrente do neo-liberalismo, é a crise do capitalismo. Este, sim, é o momento de resgatarmos nossas teses, demonstrar a inviabilidade desse sistema inumano, que gera a própria crise para nela procurar a sua alternativa.
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Nós, os socialistas, não somos estatistas, mas esta é a hora de proclamar a necessidade da intervenção do público sobre o privado, da retomada das regulações do capitalismo. Esta é a hora da intervenção do Estado no domínio econômico para gerar o desenvolvimento e combater o desemprego e a pobreza. Esta é a hora de controlar o câmbio, estancar a evasão de divisas. Esta crise não é para ser enfrentada pelo Banco Central, por nenhum BC, mas principalmente pelo BC brasileiro, porque é uma crise estrutural, que não tem remédio e que pede o nosso combate.
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Em 1929, com a grande crise, o Brasil, sob Vargas, soube construir as bases do Estado, organizar o país e estruturar a nação, preparando-a para a industrialização. Que faremos nós, quando temos equacionada nossa dívida externa, possuímos grandes reservas de energia e somos dos maiores produtores mundiais de alimentos e matérias-primas? Ficaremos repetindo a
ladainha dos fracassados?
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O PSB precisa afastar-se da pasmaceira que atinge a esquerda socialista. Esta é a hora de nosso avanço, de retomarmos a denúncia, de promovermos o debate em todos os espaços do movimento social. Estamos sendo chamados pela história para promover uma profunda e didática doutrinação socialista.
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Ao mesmo tempo precisamos levar nosso governo a tomar as posições progressistas que pode adotar para enfrentar a crise: garantia do poder de compra dos salários; reforço do papel do Estado; intervenção nos setores e áreas estratégicas; defesa dos setores produtivos nacionais; promover o crescimento econômico através de investimento do setor público e assegurar a criação de empregos; fortalecimento e expansão do mercado interno; reforço das funções sociais do Estado e proteção das regiões e populações mais carentes.
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(*) Roberto Amaral, vice-presidente nacional do Partido Socialista
Brasileiro (PSB)
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