terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A crise econômica e o help estatal
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Ubiratan Pereira de Oliveira / Bira (*)
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A euforia recente da quebra das fronteiras e limites entre os países, da expansão econômica desenfreada, da universalização das práticas e dos comportamentos levaram o mundo globalizado e as nações a se apropriarem de uma hegemonia neoliberal que direcionava todos os seus esforços e expectativas em torno da auto-regulamentação dos mercados financeiros.
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Em tempos de livre circulação das mercadorias, a mundialização da produção, os acordos multilaterais entre as nações, apontavam necessariamente para uma participação mínima dos estados nacionais na formulação e na condução de suas políticas econômicas e de suas estratégias de desenvolvimento. O deus mercado dos indicadores econômicos e das paranóicas oscilações das bolsas de valores era sábio o suficiente para encarar dificuldades localizadas de países que enfrentavam, pontualmente, turbulências decorrentes de sua própria insuficiência produtiva e econômica, ou da ausência de condições reais de competitividade frente à queda de barreiras do mundo global.
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A fórmula parecia simples e a equação paradigmática. Nada mais prazeroso para o capitalismo selvagem do que o fato deste próprio transformar-se estrategicamente em capitalismo globalizado, trazendo consigo a internacionalização de interesses, a ampliação dos mercados, a generalização dos sonhos e a uniformização dos padrões de consumo e das formas de produção.
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Mas o mundo, que já experenciou as fases cíclicas e mutantes do capitalismo, parece ter se deparado com o real e absoluto resultado da fé cega nos mercados internacionais. A inicial turbulência tornou-se crise localizada em algumas nações, posteriormente internacionalizou-se, virou recessão, superou em si mesmo a sua fase mais ‘depressiva’ de 1929, e hoje é considerada por alguns especialistas como a crise que derrubou o outro muro… o de Wall Street.
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Como a sutileza queda sucessiva de um jogo de dominó, ou um castelo de cartas, talvez marcadas, as bolsas de valores despencaram em todo mundo e após os espirros dos mercados internacionais, o grito de socorro tem uma única e exclusiva direção, exatamente aquela que era rechaçada pelos grandes teóricos das economias de mercado. A mão forte e antes renegada do Estado é convocada e intervém através da formulação de pacotes ‘anti-crise’ de socorro aos bancos e de estímulo ao consumo dos já sufocado consumidores. Levando-se em consideração apenas os países centrais, mais de 4 trilhões de dólares já foram ofertados pelos governos na tentativa desenfreada de minimizar os impactos da crise nas suas economias internas.
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Além da reviravolta repentina da intervenção estatal na economia, o sentimento de culpa, nada freudiano, foi assumido em praticamente todos os discursos do Fórum Econômico de Davos, a instância máxima dos gestores das grandes potências econômicas e das grandes instituições financeiras internacionais. Em seu discurso, Klaus Schwab, Presidente do Fórum Econômico Mundial (WEF) relatou: “Somos todos responsáveis por não reconhecer os riscos de um mundo totalmente desequilibrado(…) A negação de uma verdade politicamente inconveniente ou desagradável, em conjunto com o instinto de manada, nos levou a depender de sistemas irreais e insustentáveis,enfraquecidos ou abusados de maneira antiética ou fraudulenta”.
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Longe de lá e perto daqui, a oitava edição do Fórum Social Mundial era realizada em Belém do Pará. Mais do que nunca, é necessário o contraponto, a disputa de hegemonia. As discussões das questões ambientais, econômicas e sociais necessitam de outro referencial. A presença de vários chefes de estado da América Latina, dos mais diversos movimentos sociais organizados, povos indígenas, juventude, e outras variadas tribos, evidenciam a importância estratégica do Fórum. Definitivamente, a fé cega nos mercados deve-se transformar na crença de que outro mundo é possível…
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(*) Secretário Geral do PSB-PB e vereador de João Pessoa.
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